Partida

No dia do meu enterro estarei eu acordado
de alma leve e corpo pesado
estarei eu pairando sobre gente num mar de cruzes
com corpo benzido em fato vestido
rezas de perdão e choro e cruzes
e eu ali, vendo tudo, navegando ao vento
e meio perdido
aquele, que sou eu, com destino cumprido
este outro - que já foi o mesmo -
completamente perdido.

23.11.1999

saber de antemão o que fazer
é como ter antes de ter
é viver de coração na mão por medo de o perder

11.11.1999

sem regresso

quando claridade entrava nuvem se esbarrou no estrado. corpo dormente durante dias. perdido. completamente. sofrer calado. sempre.

agridoce

vejo-os espalhados por aí, sentindo o mundo pelas narinas, olhando com força, pensando que ainda vale a pena...e sinto-me leve. só de os ver. alegra-me ter partilhado momentos, risos, pensamentos. alegra-me ter espaço na memória para tantos. alegra-me ter recebido mais do que dei e ter vivido espaços de ilusão partilhada. e ainda assim tenho esta melancolia agarrada ao corpo, por saber que tudo isso já passou e por saber que as memórias se esboroam e por saber que de tanto vai ficar tão pouco. vou e venho nesta oscilação e tremo pelo caminho...porque o conheço de outras jornadas.

deixei de dizer coisas que quero porque, na dúvida, o silêncio parece sempre mais acolhedor. perdi oportunidades. perdi pessoas. perdi tempo. perdi partes de mim.

Saber pouco de tudo parece sempre saber nada de nada. As certezas devem ser sempre mais reconfortantes.

Salta-me um rio das mãos.